O texto a seguir contém spoilers em potencial do filme Star Wars: The Force Awakens. Nada do que falarei é especialmente surpreendente, mas se você é uma daquelas pessoas que considera até o rosto do Kylo Ren sem máscara como um spoiler, já coloco o aviso agora. Mantenha em mente antes de continuar.
Hey there, fellas!
Hoje eu vou me desviar um pouquinho do assunto dos videogames (e possivelmente cutucar um vespeiro, mas vale o risco). Não se preocupem, pois ainda vai continuar dentro do reino das nerdices agudas. Mas é um assunto sério. *pigarreia pro assunto sério*
Desde a estreia do novo filme da série Star Wars, um dos assuntos que andou correndo a Internet (mais pro lado da gringolândia, mas o Omelete fez algum comentário a respeito e vi por alguns outros cantos do Facebook também) era a possibilidade da personagem Rey ser uma “Mary Sue”. O post de hoje vai ser para falar sobre isso, e para tal, precisamos estudar o que significa o termo “Mary Sue” e onde essa “controvérsia” realmente quer chegar.
O termo “Mary Sue”, de acordo com o site TV Tropes, não é algo claramente definido, mas de maneira geral é utilizado para descrever um tipo de personagem comum em fan fiction, aquelas histórias que fãs fazem dentro dos universos que amam. O termo surgiu em uma fanfic baseada na série original de Star Trek, chamada “A Trekkie’s Tale” e escrita em 1974. A “Mary Sue” em questão é uma tenente da Frota Estelar que tem um passado misterioso e romantizado, possui uma ampla variedade de habilidades, imediatamente conquista o coração do capitão Kirk e é admirada por Spock por sua lógica infalível, tem a chance de comandar a ponte da Enterprise e morre de uma maneira trágica e dramática, como se fosse boa demais para este mundo (ou para esta galáxia, no caso). Para encurtar, ela é perfeita, e assim é porque é basicamente o próprio autor se inserindo dentro de sua história, a pessoa se escrevendo como ela gostaria de ser no mundo de seus sonhos.
Agora, algumas pessoas estão argumentando na Internet que a Rey, nova protagonista do Episódio VII de uma das maiores franquias cinematográficas do mundo, é também uma “Mary Sue”, uma personagem que não tem defeito algum, e isso seria um problema. E, certamente, é possível ver como alguém pode ter essa opinião: Rey consegue bater em três caras ao mesmo tempo, constantemente deixa claro a Finn que não precisa de sua ajuda antes de se aproximar mais dele, consegue pilotar a Millennium Falcon, entende tanto de mecânica quanto o Han Solo, e ainda por cima tem os poderes da Força e derrota o vilão num épico duelo de sabres de luz. Então, é, ela é bem foda, e nem precisa encolher a barriga.
Mas vamos voltar um pouco aos games para que não me acusem de fugir completamente de meu propósito, e para um jogo que completei pela primeira vez outro dia mesmo. Na semana do Natal, terminei o primeiro jogo da série Metal Gear Solid, e conheci pra valer o personagem Solid Snake.
Solid Snake, além de poder ser um apelido carinhoso de alguém para seu próprio pênis, é também um soldado das Forças Especiais dos EUA, que é tão foda, mas tão foda, que resolve ir morar no frio do Alaska depois de se aposentar. E ele é tão foda que, mesmo depois de aposentado, o governo o procura para se infiltrar em uma base terrorista, desarmado, e desativar uma arma nuclear devastadora. Em Metal Gear Solid, nós temos exatamente quatro personagens femininas: a doutora Naomi Hunter, que providencia inteligência e suporte na missão; Mei Ling, para quem você liga quando precisa salvar o jogo; Sniper Wolf, uma das “chefonas” e atiradora de elite profissional; e a Meryl Silverburgh, sobrinha do coronel responsável pela missão e que também está infiltrada na base terrorista. Todas elas querem o corpo do Snake nu. Não acredita? Eu tenho screens:
Não estaríamos tendo esta conversa se Rey fosse homem.
Agora, veja bem, não estou dizendo que Rey não é uma “Mary Sue”. Ela realmente tem todas essas qualidades e pouquíssimas coisas que poderíamos chamar de defeitos ou falhas de caráter, e isso passa um pouco uma impressão de que ela é uma personagem escrita por homens que estavam com medo de serem acusados de qualquer tipo de machismo e causar alguma controvérsia. O que estou argumentando é que isso na verdade não é um problema, que é legal que as mulheres finalmente tenham personagens que são equiparáveis a personagens icônicos masculinos, e que ninguém estaria chamando atenção para este fato se tivéssemos ido ao cinema para acompanhar a história de Ray, o corajoso guerreiro de Jakku que pilota a Millennium Falcon, é mecânico, faz proezas de combate, derrota o vilão e salva a galáxia. O próprio termo “Mary Sue” é usado exclusivamente para identificar personagens femininas, e apesar de dizerem que existe um equivalente masculino (o Gary Sue) eu nunca vi alguém ter problema com isso até hoje. O que quero dizer é que não podemos fazer dois pesos e duas medidas aqui.
Este é um desenho que encontrei na Internet que troca os sexos de todos os personagens de Star Wars. Ele pode ajudar as pessoas a enxergar melhor esta questão.
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